quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Doce Revolução

Seu suor sangrento não emite hemoglobina, Sua palidez não reflete medo, mas o desejo de sair das cavernas do conformismo lhe acelera a dor.

Um aperto na mão e um tiro na cabeça. A raiva me provoca uma identidade, me cobra um rosto.

A política me rasga a postura e me pergunta pelo o seu amor impossível, a dona cultura, que anda esquecida ou nunca foi conhecida de seus súditos. Daremos filhos. E o primeiro se chamará Cinema Novo.

Corrigiremos os pecados dos pais nos filhos e quem sabe seremos expurgados das nossas heresias chanchadianas e seus métodos anticoncepcionais que nunca nos permitiram procriar, criar, nascer ou quem sabe desenvolver.

Flertamos com as bella ragazza e jeune fille, mesmo desejando as nossas musas brasileiras que nunca nos deram bola. Ah, se fôssemos gringos...

Tu és real, Garota, mas mesmo assim preferes a ilusão estrangeira? Não se cansa de seres humilhada e ridicularizada? Eu me revolto por ti!

Somos distantes. Minha moeda não te compra, sua sociedade não me entende, nossos partidos são politicamente extremistas e polarizados. Somos estranhos, minha Nega, e isso me deixa frustrado...

Só queria te levar pra você se conhecer, ver lugares que nunca sonhou como o calor do Nordeste, a vista do Corcovado, os nossos vizinhos da favela... Mas que pena que viver numa caixa fechada seja seu doce mundo. Só queria ter dizer que ele está em ruínas.

Continuarei, mesmo que você não me queira, pois existem outros por aí que sofrem por garotas como você. E é a eles que vou me juntar e sofreremos a luta de um coração só, um grito só.

Irei me refugiar no sertão e sei que no meio de tanta alienação religiosa te encontrarei comendo rapadura com uma lata d’água na cabeça. Desenvolva e saia desse subdesenvolvimento!

Movimento-me pouco, sou simplório e falo muito. Mas faço diferença onde passo e quem sabe faça diferença pra alguém daqui a alguns anos.


Exploda em liberdade conceitual e se preciso for, queime a película com esse olhar agressivo! Faremos-nos pensar pensando em vocês! Aonde iremos parar? A história nos guiará... Enquanto isso, levarei até as últimas conseqüências minhas atitudes extravasando o que me resta de Novo. Ganhei até um apelido de Tropicália. Nem sei o que é isso... Como não há mais o que dizer, me recolho para meu exílio à espera da doce revolução dormindo nos braços da linda francesa e da bela portuguesa, enquanto meu sangue torna-se uma das dez pragas do Egito...



(Poema feito pra disciplina de Cinema Brasileiro da professora e poetisa Michelle Ferret sobre O Cinema Novo.)